Em 19 de abril, é celebrado o Dia dos Povos Indígenas, uma data importante para nos lembrar da importância da escuta, do respeito e da valorização das culturas originárias. No Brasil, são mais de 1,6 milhão de indígenas, pertencentes a 305 povos diferentes, falando 274 línguas distintas. Cada povo carrega consigo uma relação ancestral com a terra, com os animais e com os ciclos da natureza, sabedoria fundamental para a preservação dos biomas brasileiros.
Apesar de sua nítida importância, os povos indígenas no Brasil enfrentam desafios significativos: invasões de seus territórios, desmatamento, garimpo ilegal, mudanças climáticas e negligência por parte do poder público. Esses fatores afetam diretamente sua saúde e segurança, bem como a fauna e o equilíbrio ambiental das regiões onde vivem.
É nesse cenário que o trabalho do GRAD Brasil ganha ainda mais relevância. Atuando em situações de emergência, o GRAD leva assistência veterinária, suporte técnico e cuidado direto tanto para os animais quanto para suas comunidades. Essa abordagem se ancora no conceito de Saúde Única, que reconhece a interdependência entre a saúde das pessoas, dos animais e do meio ambiente.
Em muitas dessas ações, os animais estão profundamente conectados às famílias: são companheiros de vida, parte da cultura e também da subsistência. Por isso, o cuidado é sempre multiespécie e intercultural, levando em conta os modos de vida tradicionais.
Ao longo deste texto, vamos explorar o contexto atual dos povos indígenas no Brasil, como o conceito de saúde única se aplica às comunidades tradicionais e como o GRAD atua, na prática, para proteger vidas, humanas e animais, de forma integrada. Leia até final!
A situação dos povos indígenas no Brasil
Os povos indígenas no Brasil têm enfrentado uma escalada de ameaças aos seus direitos e territórios. Em 2023, foram registrados 276 casos de invasões possessórias, exploração ilegal de recursos naturais e danos ao patrimônio indígena. Mais do que isso, esses ataques não são apenas contra a terra: são contra a vida, a cultura e a existência de centenas de povos que dependem diretamente de seus territórios para manter suas tradições e garantir sua subsistência.
Paralelamente, essas invasões caminham lado a lado com o desmatamento e a degradação ambiental. Dados do MapBiomas revelam que, entre 2019 e 2022, houve uma intensificação do desmatamento em Terras Indígenas, principalmente na Amazônia Legal, impactando diretamente os modos de vida das comunidades e comprometendo a biodiversidade de forma irreversível.
Além disso, há desafios profundos na área da saúde. Muitas comunidades indígenas sofrem com falta de acesso a atendimento médico e veterinário, insegurança alimentar e surtos de doenças que poderiam ser prevenidas com políticas públicas adequadas. A crise humanitária que afetou os povos Yanomami em 2023, marcada por desnutrição severa e alta mortalidade infantil, por exemplo, evidenciou o abandono sistemático dessas populações.
Apesar disso, os povos indígenas seguem como principais guardiões da natureza no país. Diversos estudos apontam que as Terras Indígenas são as áreas mais preservadas do Brasil, justamente por conta do manejo tradicional que valoriza o equilíbrio ecológico e a convivência com outras espécies. Portanto, em um momento de emergência climática, a preservação desses territórios é urgente e estratégica para toda a humanidade.

Foto: Equipe do GRAD oferecendo assistência veterinária a animais de comunidade indígena do Rio de Janeiro.
A demarcação de terras indígenas como direito fundamental
A demarcação de terras indígenas é um direito constitucional garantido pelo Artigo 231 da Constituição Federal e representa um dos pilares para a proteção dos povos indígenas no Brasil.
Assegurar a posse e o uso exclusivo dessas terras é essencial para a preservação das culturas, línguas, espiritualidades e modos de vida desses povos, bem como para a proteção do meio ambiente.
Sem a demarcação, os territórios ficam vulneráveis a invasões, desmatamento, exploração ilegal e violência. Essa luta, que é histórica e contínua, é uma das principais bandeiras defendidas por organizações como a APIB – Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, que vem denunciando retrocessos e cobrando o cumprimento da Constituição para garantir justiça e respeito aos direitos originários.
Como a saúde única se aplica aos povos indígenas no Brasil
O conceito de Saúde Única (One Health) parte do princípio de que a saúde humana, a saúde animal e a saúde ambiental estão profundamente conectadas. Em territórios indígenas, essa interdependência é ainda mais evidente. O bem-estar das comunidades está diretamente ligado à saúde dos rios, das matas e também dos animais, sejam eles parte da alimentação tradicional, da proteção espiritual ou membros afetivos das famílias.
Nas comunidades indígenas atendidas pelo GRAD, é comum encontrar cães, gatos, galinhas e porcos convivendo com os moradores. Esses animais fazem parte da rotina e, muitas vezes, são essenciais para o sustento ou proteção da aldeia. A separação entre “gente” e “bicho”, tão comum na visão urbana, não se aplica a esses contextos: são famílias multiespécies, e o cuidado precisa ser integral.
Ignorar a saúde animal nesses territórios é ignorar algo crucial para o equilíbrio comunitário. Afinal, um surto de doenças entre os cães de uma aldeia, por exemplo, pode impactar diretamente a segurança sanitária de toda a população humana, especialmente em áreas remotas e com pouco acesso a serviços veterinários. É por isso que o GRAD atua com campanhas de vacinação, vermifugação, controle populacional e avaliação clínica dos animais, sempre respeitando os saberes locais.
Além do cuidado direto, o trabalho do GRAD também promove educação em saúde e escuta ativa. Em diálogo com lideranças indígenas, os membros aprendem e ensinam, um intercâmbio necessário para garantir ações eficazes e respeitosas. O objetivo nunca é impor uma visão externa, mas construir soluções conjuntas que fortaleçam a autonomia das comunidades.
O GRAD e o cuidado com a saúde de povos indígenas e seus animais
Desde sua fundação, o GRAD Brasil tem atuado em situações emergenciais de desastres, sempre com o olhar voltado à proteção das famílias multiespécies. Por isso, essa abordagem reconhece que a saúde dos povos indígenas está intrinsecamente ligada à saúde dos animais que compartilham seus territórios e seu dia-a-dia.
Assim, em 2023, diante da crise humanitária vivida pelos povos Yanomami, o GRAD realizou uma ação sem precedentes. A equipe prestou atendimento veterinário, apoio técnico e levou insumos para os animais das aldeias de Auaris e Olomai, localizadas na Terra Indígena Yanomami, em Roraima.
Consequentemente, com essa missão, o GRAD foi a única organização que levou médicos veterinários ao território Yanomami. Mais de 130 animais foram atendidos com vacinação, vermifugação, exames clínicos e tratamento de enfermidades, muitas delas ligadas à desnutrição e à falta de cuidados básicos. A presença da equipe foi essencial para garantir a saúde da família multiespécie e mitigar riscos zoonóticos.

Foto: Equipe do GRAD atuando com apoio humanitário junto ao povo Yanomami, em Roraima.
Saiba mais sobre essa atuação clicando aqui.
Comunidades indígenas impactadas pelo trabalho do GRAD
Contudo, a atuação do GRAD com os povos indígenas não se restringe à Amazônia. A organização já levou assistência técnica, alimentação e apoio logístico para animais de aldeias afetadas por desastres ambientais e emergências em diversas regiões do país. Entre os povos atendidos estão: os Guató, no Pantanal (MT), em meio às queimadas; os Pataxó Hã Hã Hãe, após o rompimento da barragem em Brumadinho (MG); os Povos Apiaká, Kaiabi e Munduruku, no Mato Grosso; as comunidades Guarani Mbya, em aldeias como Ka Aguy Porã, Pindó Poty (RS), Rio Silveira (SP), Sapukai e Tava Mirim (RJ); os Povos Parakanã; e no território indígena Apyterewa (PA).
Até o momento, a instituição já atuou em pelo menos 15 comunidades indígenas em diferentes estados brasileiros. Em todas essas localidades, a abordagem multiespécie, com respeito ao vínculo entre os indígenas e seus animais, guiou as ações da organização. Além disso, o cuidado com os animais nestes territórios é também uma forma de proteger a cultura, a segurança alimentar e a espiritualidade dos povos originários.

Foto: Enderson Barreto, membro voluntário do GRAD visitando a Terra Indígena Cachoeirinha para realizar a avaliação inicial da situação em aldeias como Mãe Terra e Vila São Miguel. Por André Bittar
A atuação do GRAD com os povos indígenas no Brasil reforça a importância da saúde única em territórios tradicionais. Atuar com respeito e sensibilidade cultural fortalece a defesa da vida, bem como soma forças na luta pelos direitos dos povos originários.
Por isso, em um país onde os direitos indígenas seguem sob constante ameaça, ações como a do GRAD protegem famílias multiespécie e ajudam a preservar a cultura e a soberania indígena.
Apoie nosso trabalho com povos indígenas no Brasil
Infelizmente, muitas comunidades indígenas ainda enfrentam a ausência de assistência médica adequada tanto para humanos quanto para animais. Além disso, o convívio próximo entre humanos e animais domésticos, sem o acompanhamento de profissionais capacitados em saúde única, como médicos-veterinários, representa um risco à saúde coletiva. Isso porque pode favorecer o surgimento e a disseminação de doenças zoonóticas, que afetam todos os seres envolvidos.
Diante disso, o GRAD Brasil atua levando assistência médico-veterinária a territórios onde esse cuidado é escasso ou inexistente. Nosso trabalho busca, assim, promover saúde e bem-estar de forma integrada, respeitando os modos de vida das comunidades e cuidando de todas as espécies que compartilham esse território.
E é por isso que sua ajuda é tão importante! Com a sua doação, o GRAD pode continuar atuando junto às comunidades indígenas, levando cuidado e proteção aos animais que vivem com essas populações.
Cada contribuição ajuda a tornar possível ações emergenciais, atendimento veterinário e suporte alimentar para famílias multiespécie em territórios indígenas.
Acesse https://gradbrasil.org.br/ajudeograd/ e faça uma doação!
Escrito por: Rubia Rempalski – Greenbond Conservation
Revisado por: Juliana Badari – Greenbond Conservation