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COP30: Principais decisões, impactos e a invisibilidade dos animais nas negociações climáticas

Por 27 de novembro de 2025Sem categoria

A conferência mundial sobre clima, realizada em Belém do Pará, colocou a Amazônia no centro do debate internacional. Mesmo assim, a ausência dos animais nas negociações reforçou uma lacuna estrutural: ignoramos justamente os seres vivos que sustentam o equilíbrio dos ecossistemas e são afetados com maior intensidade pelas mudanças climáticas.

Por que falar sobre animais na COP30 é uma questão climática

A COP30, Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, ocorreu entre 10 e 21 de novembro de 2025, em Belém (PA). Pela primeira vez, o encontro aconteceu no coração da Amazônia, um dos biomas mais biodiversos do planeta, mas também, um dos mais impactados pela emergência climática.

A conferência discutiu temas como redução de emissões, adaptação, financiamento climático e proteção da biodiversidade. No entanto, um ponto essencial estava ausente nas mesas de negociação: os animais.

Apesar de estarem entre as primeiras vítimas de desastres climáticos, como secas, enchentes, queimadas e temperaturas extremas, os animais continuam invisíveis nas discussões políticas que definem o futuro do planeta. Seja na floresta, nas cidades ou nas zonas rurais, eles sentem os efeitos da crise antes de todos nós, e, mesmo assim, raramente são lembrados nas soluções propostas.

O cenário evidencia um paradoxo. Enquanto se debate a regeneração da Amazônia, a adaptação dos territórios e a resiliência das comunidades, a vida animal permanece tratada como periférica.

Imagem: Acervo GRAD Brasil.

O papel invisível dos animais na regulação climática

Estudos da ONU Meio Ambiente mostram que a presença e o comportamento animal influenciam diretamente o ciclo do carbono e a regeneração das florestas. Espécies como aves frugívoras, peixes migratórios, grandes herbívoros e insetos polinizadores mantêm a fertilidade dos solos, a dispersão de sementes e o equilíbrio dos ecossistemas aquáticos e terrestres.

Quando essas populações entram em declínio, seja por ações humanas ou eventos climáticos extremos, os biomas perdem capacidade de se regenerar e de capturar carbono. É um efeito dominó: a perda de fauna acelera a degradação do solo, reduz a cobertura vegetal e agrava o aquecimento global.

Estudos do IPBES e relatório da ONU indicam que 1 milhão de espécies estão ameaçadas de extinção, muitas já em declínio funcional. A fauna silvestre sofre ainda mais: queimadas na Amazônia e no Cerrado, enchentes no Sul e ondas de calor extremo em diversos estados têm causado mortalidades em massa, incluindo peixes, aves e mamíferos.

 Dados do ICMBio apontam que queimadas extremas como as de 2020 no Pantanal afetaram mais de 17 milhões de vertebrados. Esse colapso silencioso possui implicações diretas sobre o clima.

Em centros urbanos, cães, gatos e outros animais domésticos também enfrentam os efeitos diretos do colapso climático, abandonados em enchentes, perdidos em evacuações ou vítimas de calor extremo, fenômenos cada vez mais frequentes.

Essas perdas raramente são contabilizadas em relatórios oficiais, o que reforça a falta de importância e a invisibilidade do sofrimento animal em pautas globais.

Imagem: Acervo GRAD Brasil.

Algumas decisões da COP30 que impactam a fauna e a conservação ambiental

Embora a COP30 não tenha incluído explicitamente a pauta animal em seus mecanismos formais, várias decisões e anúncios possuem efeitos indiretos importantes para a fauna, a conservação e o trabalho de organizações.

Financiamento de ações climáticas em países em desenvolvimento:

A conferência avançou na proposta de mobilizar US$1,3 trilhão anuais para ações climáticas em países em desenvolvimento. Esse recurso poderá financiar projetos relacionados a:

  • Restauração ecológica;
  • Proteção de fauna silvestre;
  • Manejo de biodiversidade;
  • Prevenção e resposta a desastres;
  • Iniciativas de saúde única.

Expansão do Fundo Amazônia:

Anunciado pelo Ministério do Meio Ambiente, o Fundo Amazônia  atingiu um recorde histórico de aprovações de projetos. Até o momento em 2025, o valor total de aprovações atingiu a marca de R$2,048 bilhões. Esse mecanismo pode financiar iniciativas diretamente ligadas à fauna, como:

  • Monitoramento de espécies;
  • Proteção de corredores ecológicos;
  • Bases de atendimento veterinário para fauna resgatada;
  • Mitigação de impactos climáticos sobre animais silvestres.

Criação do ARPA Comunidades:

O programa anunciado durante a COP vai beneficiar mais de 130 mil pessoas que vivem em unidades de conservação na Amazônia, fortalecendo:

  • Manejo sustentável;
  • Proteção de espécies ameaçadas;
  • Iniciativas de educação ambiental;
  • Vigilância comunitária contra caça, tráfico e queimadas.

Aliança Amazônica por Transportes Sustentáveis:

A nova aliança entre países amazônicos, Banco Mundial e BID propõe infraestrutura resiliente e menos impactante, reduzindo pressão sobre áreas de alta biodiversidade.

Reconhecimento ampliado dos povos indígenas:

A presença de 1,6 mil lideranças indígenas de nove países reforçou a centralidade do conhecimento tradicional na proteção de animais e biomas, uma pauta essencial para a saúde dos ecossistemas.

Imagem: Acervo GRAD Brasil.

Como ONGs e projetos de conservação animal podem acessar mecanismos de financiamento discutidos na COP30?

A COP30 abriu caminhos importantes para que organizações da sociedade civil, incluindo organizações do terceiro setor dedicadas à conservação e à proteção animal, possam ser inseridas nos mecanismos de financiamento climático.

Em vez de acessar recursos apenas por linhas tradicionais de fauna, as organizações podem se inserir em propostas mais amplas de restauração, manejo territorial, fortalecimento comunitário ou Saúde Única, atuando como executoras especializadas dentro de iniciativas multissetoriais. Parcerias com governos locais, universidades, institutos de pesquisa e consórcios internacionais também ampliam as possibilidades de ingresso, já que muitos fundos priorizam projetos colaborativos e de impacto territorial.

De forma geral, o evento reforçou que iniciativas que protegem a fauna e regeneram ecossistemas podem dialogar diretamente com os fundos climáticos anunciados, desde que estejam articuladas às estratégias de adaptação e resiliência discutidas na conferência.

Imagem: Acervo GRAD Brasil.

As ações do GRAD na COP30

Durante toda a COP30, a presença do GRAD Brasil teve como objetivo central dar visibilidade aos animais. A organização utilizou formas simbólicas, performáticas e institucionais para levar a pauta animal às zonas da conferência:

Campanha Voz aos Invisíveis

  • Duas pessoas caracterizadas como arara e cachorro, uniformizadas com vestes do GRAD;

Imagem: Acervo GRAD Brasil.

 

  • Um performer inteiramente de preto, representando a vida animal que permanece sem voz interagindo com visitantes na Green Zone. Ele carregava um cubo com um “?” (ponto de interrogação) e QR code que direcionava para a página da campanha oficial convidando o público a assinar uma petição pela inclusão dos animais nas próximas COPs.

Imagem: Acervo GRAD Brasil.

  • Distribuição de leques com imagens de animais resgatados durante operações do GRAD em desastres climáticos no Brasil e o mesmo QR code da campanha.

Membros do GRAD Brasil. Presidente da COP30, André Corrêa do Lago e a presidente do GRAD Brasil, Carla Sássi. Imagens: Acervo GRAD Brasil.

A presença institucional também teve relevância estratégica. Carla Sássi, presidente do GRAD, participou de agendas na Blue Zone, ampliando o diálogo com lideranças políticas, pessoas influentes e instituições ambientais. Simultaneamente, outros membros da organização estiveram na Green Zone, participando de debates, rodas de conversa e articulações com movimentos e outras organizações. 

A atuação do GRAD se conectou diretamente à pauta climática, reforçando que o clima e os animais estão diretamente relacionados. Afinal, a exploração de animais de criação está entre as atividades que mais impulsionam a mudança do clima. 

Os animais estão entre os seres mais expostos aos desastres ocasionados por eventos climáticos extremos, e ao mesmo tempo, desempenham funções essenciais para o equilíbrio dos ecossistemas.

A organização destacou ainda que essa perspectiva está alinhada ao conceito de Saúde Única, e defendeu que a inclusão da fauna nos mecanismos de adaptação, mitigação e financiamento climático é indispensável para fortalecer a resiliência ecológica e evitar soluções incompletas diante da intensificação dos impactos climáticos.

A mensagem levada pelo GRAD à COP 30 destacou que não há equilíbrio climático possível sem considerar a vida animal.

Imagem: Acervo GRAD Brasil.

A ausência dos animais na COP pode ter resultado em decisões incompletas

Quando os animais não são incorporados às discussões, as políticas climáticas se tornam fragmentadas. Fala-se em reflorestamento, mas sem considerar os animais que garantem a dispersão de sementes. A recuperação de ecossistemas é defendida, mas pouco se discute sobre as espécies que os mantêm funcionando. A adaptação climática é tratada como prioridade, embora quase nunca inclua estratégias de resgate ou proteção para os animais mais vulneráveis.

Essa exclusão reflete uma visão antropocêntrica, que enxerga o clima apenas como um problema humano. No entanto, a vida humana é interdependente da vida animal, tanto para o equilíbrio ecológico quanto para a saúde coletiva.

Enquanto tratarmos a vida animal como periférica, continuaremos tentando curar os sintomas sem compreender a causa.

A participação do GRAD Brasil na maior conferência sobre o clima do mundo contribuiu para evidenciar essa lacuna, mobilizar o público e criar pontes entre organizações, instituições e financiadores. O próximo passo – dentro e fora das COPs – é transformar essa urgência em políticas estruturadas, capazes de integrar os animais à agenda climática global.

O GRAD convida você a fortalecer esse movimento. A campanha Voz aos Invisíveis busca garantir que a fauna seja finalmente incluída nas decisões climáticas da COP31, que acontecerá na Turquia, em 2026. Cada assinatura ajuda a romper o silêncio que mantém esses animais fora da agenda global.

Participe e dê voz a quem nunca tem vez:
https://cop30.gradbrasil.org.br/

 

Escrito por: Karine Braga – Greenbond Conservation 

Revisado por: Juliana Badari – Greenbond Conservation