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Fogo no Pantanal: Crise climática e seca recorde ameaçam o bioma 

Por 30 de setembro de 2024Blog

O Brasil vive um cenário alarmante, refletido em manchetes como: ‘Queimadas na Amazônia espalham fumaça tóxica pela região’ e ‘Seca histórica deixa cidades com níveis de umidade comparáveis ao deserto.’ Essas e outras notícias confirmam que a crise climática não é mais uma previsão do que está por vir no futuro; ela já está aqui e é uma realidade do nosso presente.

Sim, é verdade que a Terra já atravessou períodos de mudanças climáticas ao longo de sua história, marcados por variações de temperatura significativas, resultando em grandes extinções em massa. 

Porém, desde a Revolução Industrial, o que antes era considerado pelos cientistas como um processo natural, se intensificou e foi seriamente acelerado pelas ações humanas. Agora, as alterações prolongadas nas temperaturas e nos padrões climáticos colocam em risco a sobrevivência de nações inteiras.

A queima de combustíveis fósseis, como o carvão e o petróleo, o desmatamento de terras e florestas, geração de energia, indústria, transporte, edificações, agricultura, expansão pecuária e uso da terra estão entre as principais atividades antrópicas que intensificam a crise climática.

Essa aceleração na degradação do meio ambiente afeta ecossistemas inteiros ao redor do mundo e no Brasil, impactando todos os biomas brasileiros. O Pantanal, classificado como Patrimônio Natural da Humanidade e Reserva da Biosfera pela Organização das Nações Unidas (ONU), está entre os mais afetados.

A pior seca no Pantanal dos últimos 40 anos 

Com 151 mil quilômetros quadrados, abrangendo os estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, além de partes da Bolívia e do Paraguai, o Pantanal é a maior área úmida do planeta. Um ecossistema normalmente caracterizado por estações bem definidas de seca (abril a setembro) e cheia (novembro a março), cercado por cinco biomas, incluindo três brasileiros: Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica.

 

Transpantaneira em 2019. Foto: Gustavo Figueirôa.

O Pantanal tem sido duramente afetado pela crise climática que estamos vivenciando. Nos últimos anos, a redução drástica das chuvas e o aumento das temperaturas vem ameaçando sua biodiversidade única e comprometendo o ciclo hidrológico da região.

 

Transpantaneira em junho de 2024. Foto: Acervo GRAD Brasil.

Um estudo inédito realizado pela WWF Brasil, revelou que, nos primeiros quatro meses de 2024, período que deveria registrar o auge das inundações, registrou que a média de área alagada no bioma foi inferior à registrada durante a seca do ano passado. Ou seja, os períodos de chuva estão cada vez mais curtos e as secas mais prolongadas, intensificando os impactos ambientais.

Apesar das estações bem definidas, o Pantanal enfrenta uma seca severa desde 2019. Este ano, a estiagem chegou mais cedo e já é considerada a pior dos últimos 40 anos. Uma ameaça que coloca em risco a existência da maior planície alagável do mundo. 

 

Macaco tentando beber água em lamaçal. Foto: Diego Bavarelli.

 

Segundo o climatologista Carlos Nobre, o bioma pode deixar de existir até 2070. Ele destaca que o Pantanal já perdeu 30% de sua área alagada nos últimos 30 anos, um dado alarmante que expõe a celeridade da degradação em curso.

 

Fogo no Pantanal: quase 2 milhões de hectares perdidos apenas em 2024

Com a seca extrema, outro fator agrava ainda mais a situação: o fogo. Até 16 de setembro de 2024, o Pantanal perdeu cerca de 2 milhões de hectares  consumidos pelas chamas, um cenário que ameaça todo o equilíbrio do ecossistema. 

Segundo o Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais (Inpe), de 1° de janeiro a 3 de setembro de 2024, foram identificados 6.765 focos de incêndio, 41,2% a mais do que o número registrado no mesmo período de 2020: 4.790 focos.

 

Equipe do GRAD no combate aos incêndios no Pantanal Norte. Foto: Diego Bavarelli.

Períodos de estiagem prolongada deixam a vegetação mais seca e, associada às altas temperaturas, as chamas se propagam rapidamente, tornando os incêndios mais extensos e difíceis de controlar. 

Embora o clima seco acelere a propagação das chamas, a maior parte dos focos é resultado de ações criminosas, com o objetivo de transformar as áreas devastadas em terrenos agricultáveis.

O ciclo de queimadas ilegais, além de acentuar a situação ambiental, impacta diretamente as comunidades locais, que dependem dos recursos naturais para sobreviver, e acelera a perda da biodiversidade em um dos biomas mais ricos do mundo. Com o agravamento da crise climática, as consequências são sentidas a nível global.

Os incêndios florestais frequentes e intensos estão dizimando e reduzindo a biodiversidade pantaneira. Se incêndios gigantes como os que já presenciamos continuarem a acontecer, poderão levar regiões inteiras à extinção em um curto espaço de tempo.

 

O impacto das queimadas sobre os animais do Pantanal

A seca extrema e os incêndios estão ameaçando a vida de inúmeras espécies de animais do Pantanal. O bioma, que ainda nem havia se recuperado totalmente das queimadas devastadoras de 2020, enfrenta  um cenário ainda mais alarmante em 2024. Essa situação crítica ameaça destruir habitats de forma irreversível e provocar extinções locais.

Macaco carbonizado no Pantanal. Foto: Acervo GRAD Brasil.

Os incêndios de 2020, por exemplo, afetaram 43% do bioma, mas os impactos ressoam para além dessa área. Alguns artigos científicos, mostram uma redução drástica nas populações de algumas espécies icônicas do Pantanal, como lobos-guará, onças-pintadas, jaguatiricas, antas, queixadas, além de diversas espécies de aves.

A fome cinzenta, resultado da destruição da cadeia alimentar, faz com que muitos animais enfrentem uma escassez crítica de alimentos. Sem plantas ou pequenas presas para se alimentar, as espécies maiores, como onças e antas, sofrem com a falta de recursos essenciais para sobreviver.

Ainda não há estimativas precisas sobre o número de animais afetados ou mortos, mas o fogo e a seca continuam agravando a devastação.

 

O que precisa ser feito para reduzir os impactos da crise climática?

Ações imediatas precisam ser tomadas, não apenas pelos órgãos governamentais, mas também pela sociedade civil como um todo. Reduzir a queima de combustíveis fósseis e acabar com o desmatamento são apenas a ponta do iceberg. 

Cada pequeno gesto pode transformar o futuro do planeta. Ao reduzir o consumo de carne, apoiar projetos de conservação, e promover a energia sustentável, estamos dando passos coletivos para mitigar os impactos da crise climática e promover um futuro mais sustentável para a humanidade.

Atuação do GRAD no Pantanal

Desde junho, o GRAD tem atuado intensivamente no Pantanal, com equipes dedicadas ao atendimento de animais vítimas da seca e dos incêndios devastadores. 

Nossas equipes oferecem cuidados emergenciais e realizam a realocação de espécies afetadas pela destruição de seus habitats. As operações envolvem o resgate de animais debilitados e o fornecimento de água em corixos secos – locais que, neste período, deveriam conter água, mas estão completamente secos, para garantir a dessedentação de espécies ameaçadas pela seca prolongada.

Resgate e atendimento a animal ferido pelos incêndios. Foto: Diego Bavarelli.

Além do atendimento imediato, o GRAD também desempenha um papel essencial na recuperação de fauna silvestre e na conservação do bioma. Ativamente, estamos colaborando em parceria  com outras instituições que também atuam na linha de frente, promovendo ações conjuntas para mitigar os impactos da crise ambiental que assola o Pantanal.

 

Campanha #TragamÁguaParaOPantanal 

Mesmo com evidências alarmantes, o Pantanal Norte, no MT, sofreu com negacionismo e negligência de órgãos ambientais e do governo. Autoridades e parte da sociedade resistem em reconhecer a gravidade da situação, apesar de dados e imagens comprovando o cenário.

Há um mês nos propusemos a levar água para a dessedentação da fauna. Construímos um plano de ação bem estruturado, dependia de recursos próprios, visando distribuir esse recurso natural tão necessário nos pontos mais críticos da transpantaneira. Infelizmente, fomos impedidos de atuar pela Secretaria de Meio Ambiente do estado do Mato Grosso e ainda acusados de não querer colaborar com o governo estadual. Isso não corresponde à verdade, pois estamos sempre à disposição das autoridades oficiais para trabalhar em parceria.

Mesmo com as negativas, o GRAD se manteve firme, não desistindo de nossa missão em nenhum momento. Diante da dificuldade em executar a ação de dessedentação urgente, lançamos a campanha #TragamÁguaParaOPantanal, pressionando as autoridades por medidas efetivas e ações que garantisse a sobrevivência de animais frente à seca extrema. 

Após muita persistência e através de uma ação judicial e com apoio de outras instituições, como o Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal, conseguimos uma liminar que permite levar água para a maior planície alagável do mundo.

 

Cochos de água instalados na Transpantaneira. Foto: Acervo GRAD Brasil.

Você pode nos ajudar a levar água para o Pantanal!

Você é fundamental para continuarmos nossa missão. Contamos com a sua ajuda para levar água para os animais do Pantanal!

Caminhões-pipa, equipamentos, equipe técnica e logística têm um custo elevado, e os animais não podem esperar. Cada doação faz a diferença para salvar a vida de milhares de espécies que sofrem de sede provocada pela seca extrema e a fome cinzenta.

Em parceria com a instituição Razões para Acreditar, lançamos uma vakinha para arrecadar recursos que serão usados para a compra de alimentos que serão distribuídos para a fauna do Pantanal. Parte desse apoio também será destinado a outras organizações não governamentais que também estão nesta luta.

Acesse este link e ajude a levar água para o Pantanal.

 

Escrito por: Rubia Rempalski – Greenbond Conservation 

Revisado por: Juliana Cuoco Badari – Greenbond Conservation