Tráfico de animais no Brasil: Impactos, consequências e como denunciar

O Brasil, conhecido mundialmente por abrigar uma das mais ricas biodiversidades do mundo, também é um dos principais alvos do tráfico de animais silvestres. Estima-se que cerca de 38 milhões de animais sejam retirados de seus habitats naturais anualmente para abastecer o mercado ilegal. 

Mas quais são os reais impactos do tráfico de animais silvestres? De quem é a responsabilidade por esse crime? E, mais importante, como você pode agir diante dessa situação? Neste blog, vamos responder a essas perguntas e fornecer informações sobre como você pode contribuir para a proteção da nossa fauna.

 

O que é o tráfico de animais?

 

Considerado a terceira atividade ilegal mais praticada do mundo, ficando atrás apenas do comércio ilegal de drogas e armas, o tráfico de animais é uma prática criminosa. Ela envolve a captura de animais silvestres diretamente de seus habitats naturais, com o objetivo de serem destinados ao comércio ilegal. 

Infelizmente, muitos desses animais não sobrevivem às condições precárias impostas pelos traficantes, enfrentando maus-tratos, fome, sede e transporte em situações desumanas. Aqueles que sobrevivem acabam sendo destinados a colecionadores particulares, laboratórios que realizam testes em medicamentos ou cosméticos, ou ainda ao comércio ilegal de peles, couros e outras partes de animais.

Além disso, o desejo humano de conviver com animais exóticos também alimenta essa cadeia criminosa. Muitas vezes, as pessoas adquirem esses animais sem ter consciência do sofrimento a que foram submetidos e dos graves impactos causados ​​à biodiversidade e ao equilíbrio ambiental. 

Filhote de papagaio resgatado do tráfico de animais.

Foto: Filhote de papagaio resgatado do tráfico de animais.

Tipos de tráficos de animais

 

O tráfico de animais é impulsionado por uma série de desejos e interesses, entre os quais se destacam:  

  1. Animais silvestres como bichos de estimação: Aves, como canários, papagaios e araras, répteis, como cágados, tartarugas e serpentes, e outros animais são vendidos para quem deseja ter um animal exótico em casa. Alguns também são comercializados para serem utilizados na medicina tradicional chinesa, sem qualquer comprovação científica.
  2. Uso de partes de animais: O tráfico também está relacionado à remoção de partes de animais, como penas, ossos, pele, carne e crânios, para diversas especificamente. Essas partes são usadas na medicina tradicional, em rituais, na gastronomia de luxo, para confeccionar produtos de decoração, ou até para serem exibidas como troféus de caça.
  3. Colecionadores particulares: Pessoas que buscam animais raros como símbolo de status ou para aumentar suas coleções privadas. 
  4. Espetáculos circenses e atrações turísticas: Elefantes, leões e outros animais selvagens são frequentemente traficados para serem forçados a realizar truques em circos ou usados ​​em espetáculos de luta. Nesses eventos, eles são submetidos a condições de abuso, privação e violência. Alguns parques aquáticos e shows marinhos capturam golfinhos, orcas e leões-marinhos para realizar truques. Eles frequentemente retiram esses animais de seus habitats naturais e os submetem a condições estressantes e insalubres, forçando-os a viver em tanques pequenos e inadequados. Esses tanques não reproduzem suas necessidades naturais, o que leva os animais a transtornos comportamentais graves. Em casos extremos, essa situação pode resultar na morte dos animais.
  5. Cobaias para testes científicos: Muitos animais, como coelhos, ratos, macacos e até cachorros e gatos, são capturados para serem usados em laboratórios de medicamentos e cosméticos. Nesses locais, enfrentam condições de abuso extremo e morte em nome de testes sem ética e controle.

 

Apesar de serem práticas criminosas, o tráfico e a comercialização ilegal de animais, suas partes e subprodutos continuam a existir e são alimentados pela demanda crescente por essas mercadorias. Frequentemente, vendem esses animais em locais como feiras livres (conhecidas como ‘feiras de rolo’), lojas e criadores clandestinos, além de estarem à venda em páginas da internet.

 

Impactos e consequências do tráfico de animais

 

O tráfico de animais silvestres tem consequências devastadoras para os ecossistemas, para a biodiversidade e para o próprio equilíbrio ambiental. Os impactos desse crime vão além da exploração individual dos animais. Eles afetam a natureza de maneira ampla e irreversível.

 

Para os animais

 


Os animais traficados enfrentam condições extremamente cruéis da captura até seu destino final. Retirar os animais do seu habitat natural causa um estresse imediato, que se intensifica com as péssimas condições de transporte. As pessoas os colocam em jaulas superlotadas, deixam de fornecer alimentação adequada, negligenciam a higiene e privam os animais de água. As lesões e doenças, muitas vezes fatais, acompanham esse sofrimento físico.

O trauma psicológico também devasta muitos desses animais, que precisam viver em cativeiro e em ambientes inadequados para suas necessidades. A vida em cativeiro altera bastante o comportamento desses animais, e muitos não conseguem se adaptar, o que resulta em morte ou causa danos mentais irreversíveis e até fatais.

 

Para o Meio Ambiente

 

Quando indivíduos de determinadas espécies são retirados de um ambiente natural, em especial espécies chave, toda estrutura ecológica daquele ecossistema é afetada. Isso inclui a alteração no controle populacional natural das espécies, muitas vezes de forma irreversível.

Além disso, algumas espécies traficadas são exclusivas de áreas específicas, e a retirada desses animais pode acelerar a extinção de espécies endêmicas. Esse impacto é especialmente crítico em regiões de alta biodiversidade, como a Amazônia, Mata Atlântica e Pantanal.

 

Para a Saúde Pública

 

O tráfico de animais silvestres também é uma ameaça significativa para a saúde pública, especialmente no que diz respeito às zoonoses, doenças de ocorrência comum tanto para animais como para seres humanos. A captura e o transporte de animais de diferentes regiões do mundo aumentam o risco de propagação de doenças desconhecidas ou pouco controladas. 

Alguns dos exemplos mais conhecidos incluem a raiva, leptospirose, a influenza aviária, o Ebola, a SARS e a COVID-19. Essas doenças têm origem em animais silvestres e podem ser transmitidas para os seres humanos por meio do tráfico e do contato inadequado com esses animais.

Além disso, é importante ressaltar que os humanos também levam agentes de doenças como vírus e bactérias. Quando transmitidos para os animais, esses agentes podem causar surtos de doenças graves e até fatais aos animais afetados daquele local.

 

A conscientização e a ação para combater esse crime são essenciais para proteger a biodiversidade, preservar o equilíbrio ambiental e garantir a segurança das comunidades ao redor do mundo.

 

Tráfico de Animais no Brasil 

 

Com uma fauna extremamente rica e diversificada, o Brasil se tornou um dos maiores fornecedores de animais para o comércio ilegal, abastecendo tanto o mercado interno quanto o externo.

Aves, répteis, anfíbios e até insetos são retirados da natureza em números alarmantes. Segundo a Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas), aproximadamente 2 milhões de aves são vendidas anualmente no Brasil. Elas são as mais exploradas no comércio ilegal, sendo frequentemente capturadas devido à sua capacidade de cantar ou imitar a voz humana, tornando-se alvo de colecionadores e do mercado pet. Para a comercialização de partes e subprodutos da fauna, répteis também estão entre os mais procurados, especialmente para a extração de peles.

O contrabando de animais no Brasil não se restringe ao mercado interno. Muitas espécies também abastecem o comércio nacional, servem como animais de estimação ou para consumo de carne, enquanto outras traficam-se para fora do país.

No mercado internacional, o Brasil fornece espécies raras e exóticas para aquariofilia, colecionadores, produção de artigos de luxo e até para laboratórios clandestinos. Segundo estimativas, o tráfico de animais silvestres movimenta pelo menos US$ 10 bilhões por ano em todo o mundo, sendo que o Brasil responde por aproximadamente US$ 1 bilhão desse montante.

Aves estão entre os animais mais traficados no Brasil. Foto: Semil/Governo de SP

Foto: Aves estão entre os animais mais traficados no Brasil. Foto: Semil/Governo de SP

Fatores que favorecem o tráfico de animais no Brasil

 

O comércio ilegal da fauna brasileira se mantém ativo devido a diversos fatores, entre eles:

  • Alta demanda por animais silvestres: Seja para o mercado pet, para consumo de carne ou para a extração de partes do corpo, a busca por animais nativos é constante.
  • Elevada biodiversidade: A grande variedade de espécies no país facilita a captura de animais para abastecer o tráfico.
  • Aceitação cultural: Muitas pessoas não percebem o impacto negativo de manter animais silvestres em cativeiro ou de consumir produtos derivados da fauna.
  • Legislação branda e falta de fiscalização: Apesar de ser considerado crime, as penas para quem pratica o tráfico de animais ainda são brandas, e a fiscalização é insuficiente para combater essa atividade criminosa de forma eficiente.

Um levantamento da Freeland Brasil, por meio do Observatório do Tráfico, revelou números impressionantes: em apenas dois anos, mais de 86 mil animais foram apreendidos, além de 34 toneladas de carne de caça e 295 toneladas de pescado ilegais. Entre os animais traficados, as aves lideram o ranking das apreensões, representando entre 80% e 90% dos registros ao longo dos anos, seguidas por répteis e mamíferos.

Atualmente, ao menos 400 espécies de aves brasileiras são alvos frequentes dos traficantes, representando cerca de 20% da diversidade de aves do país. O Brasil possui a segunda maior diversidade de aves do mundo, com 1.971 espécies catalogadas, e a intensa captura de indivíduos compromete a sobrevivência de diversas espécies, colocando muitas em risco de extinção.

O tráfico de animais silvestres no Brasil é um problema ambiental, econômico e social grave. Seu combate exige esforços contínuos de fiscalização, conscientização e punição mais rígida para quem participa dessa prática criminosa. Afinal, a retirada de um animal da natureza afeta tanto o indivíduo, quanto o equilíbrio ecológico e a biodiversidade do país.

 

Leis e iniciativas de combate ao tráfico de animais

 

Embora o tráfico de animais silvestres continue sendo um problema alarmante no Brasil, existem leis e iniciativas voltadas para a sua repressão e prevenção. O país possui um arcabouço legal que criminaliza essa prática e busca proteger a fauna, mas a efetividade dessas medidas ainda esbarra em desafios como fiscalização insuficiente e penalidades brandas.

Legislação brasileira contra o tráfico de animais

A Lei de Crimes Ambientais (Lei nº 9.605/1998) é o principal instrumento legal que trata da proteção da fauna silvestre no Brasil. Ela estabelece punições para diversas práticas criminosas, incluindo caça ilegal, maus-tratos e comércio ilegal de animais. Entre os principais artigos relacionados ao tráfico de fauna, destacam-se:

  • Artigo 29: Criminaliza a captura, caça e utilização de animais silvestres sem autorização legal.
  • Artigo 32: Penaliza atos de abuso e maus-tratos contra animais, sejam eles silvestres ou domésticos.
  • Artigo 33: Proíbe a venda, transporte e armazenamento de animais silvestres sem licença, estipulando penas de detenção e multa.

Além da Lei de Crimes Ambientais, a Constituição Federal, no Artigo 225, reforça o direito de todos a um meio ambiente equilibrado e impõe ao poder público e à sociedade o dever de protegê-lo, incluindo a fauna silvestre.

Outro marco legal importante é a Lei nº 6.938/1981, que criou a Política Nacional do Meio Ambiente e estabeleceu mecanismos de proteção à fauna. O IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) é um dos órgãos responsáveis por fiscalizar e aplicar sanções contra crimes ambientais.

 

Projetos de lei para o fortalecimento da proteção à fauna

 

Além das leis já vigentes, há propostas em tramitação que buscam endurecer as penalidades para crimes contra a fauna. Entre elas, destaca-se o Projeto de Lei 4400/20, que propõe o aumento das penas para o tráfico de animais silvestres e busca impedir que esses crimes sejam classificados como de menor potencial ofensivo. Caso aprovado, o projeto permitirá a prisão de traficantes, dificultando a impunidade.

Iniciativas de Combate ao Tráfico de Animais

Além das legislações, diversas instituições governamentais e não governamentais atuam na repressão ao tráfico de fauna e na conscientização da sociedade sobre os impactos dessa prática. Algumas das principais iniciativas incluem:

  • Operações de fiscalização e resgate de animais silvestres realizadas pelo IBAMA e pela Polícia Federal, com apoio de órgãos estaduais e municipais.
  • Projetos de reabilitação e reintrodução de animais apreendidos, conduzidos por centros de triagem e organizações especializadas.
  • Campanhas educativas e denúncias, como as promovidas pela Renctas (Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres), que alertam sobre os impactos do tráfico e incentivam a população a não comprar animais ilegais.
  • Sou Amigo da Fauna, uma iniciativa que uniu organizações como Onçafari, SOS Pantanal e Ampara Silvestre, para buscar formas de engajar o poder público, empresas e sociedade civil em prol da conservação da biodiversidade brasileira.

O combate ao tráfico de animais exige esforços contínuos e integrados. O fortalecimento da legislação, a intensificação da fiscalização e a conscientização da população são fundamentais para enfrentar essa ameaça à biodiversidade brasileira.

Iguanas vítimas do tráfico de animais. Foto: Zanone Fraissat/Folhapress

Foto: Iguanas vítimas do tráfico de animais. Foto: Zanone Fraissat/Folhapress

 

Influência das redes sociais no tráfico de animais

 

O compartilhamento de fotos e vídeos de animais silvestres ou exóticos em situações domésticas, vestidos com roupas ou em interações artificiais com humanos, pode parecer inofensivo à primeira vista. Contudo, essa prática acarreta consequências graves e contribui diretamente para o aumento do tráfico de animais.

 

O papel das redes sociais

 

Quando likes e compartilhamentos viralizam esse tipo de conteúdo, eles amplificam práticas extremamente prejudiciais à fauna silvestre. Embora sem má intenção, influenciadores digitais acabam criando tendências perigosas ao normalizar a posse desses animais, enquanto, simultaneamente, a desinformação sobre suas necessidades biológicas e comportamentais se espalha rapidamente.

A banalização do sofrimento animal ocorre quando vídeos “fofos” mascaram situações de estresse, medo ou comportamentos forçados. Por exemplo, mostrar um macaco-prego usando roupas humanas escondidas o fato de que ele está impedido de realizar seus comportamentos naturais. Entre esses comportamentos, estão a locomoção livre entre as árvores e a socialização com outros de sua espécie.

Essas práticas geram um aumento significativo na procura por animais silvestres como pets, especialmente após conteúdos virais. Isso alimenta diretamente o mercado negro de espécies exóticas, que movimenta bilhões anualmente. Criadores ilegais são estimulados pela demanda crescente, e as populações selvagens sofrem com a captura constante de indivíduos. 

 

Como agir responsavelmente contra o tráfico de animais

 

Para agir de forma responsável nas redes sociais, é fundamental:

  • Não compartilhar conteúdo que mostre animais em situações artificiais, mesmo que pareçam “fofos”;
  • Denunciar ativamente posts que promovam práticas inadequadas ou ilegais;
  • Educar sua rede sobre o impacto dessas ações, compartilhando informações científicas sobre o comportamento natural das espécies;
  • Divulgar conteúdo sobre conservação e proteção da fauna em seu habitat natural;
  • Apoiar organizações e projetos que trabalham pela preservação das espécies em liberdade.

 

Lembre-se: cada vez que você deixar de compartilhar ou curtir um conteúdo inadequado, você ajuda a quebrar o ciclo do tráfico de animais. Assim, contribui para a preservação da fauna silvestre em seu habitat natural.

 

Como identificar e denunciar o tráfico de animais

 

O tráfico de animais silvestres pode ocorrer de diversas formas, desde a venda direta em feiras e mercados até a comercialização pela internet. Alguns sinais de alerta incluem:

  • Venda de animais silvestres em locais inadequados, como feiras livres, grupos de redes sociais ou sites não regulamentados.
  • Indivíduos portando animais em condições precárias, muitas vezes em caixas pequenas, gaiolas improvisadas ou sacos plásticos.
  • Ofertas de animais sem documentação legal, como aves, répteis e mamíferos vendidos sem origem comprovada.
  • Venda de produtos derivados da fauna silvestre, como penas, peles, garras, ossos e até carne de animais protegidos.

Caso você presencie qualquer uma dessas situações, NÃO INTERFIRA DIRETAMENTE, denuncie nos locais corretos! As autoridades devem enfrentar o tráfico para garantir a segurança dos animais e dos denunciantes.

 

Como Fazer a Denúncia

 

Ao denunciar, procure reunir o máximo de informações possíveis, como:

  • Local, data e horário do ocorrido.
  • Descrição detalhada da situação e dos envolvidos.
  • Fotos e vídeos (se possível, sem se expor a riscos).
  • Placa de veículos ou qualquer outra informação que ajude na identificação.

 

Canais de denúncia disponíveis:

 

  • Polícia Militar – 190
  • Polícia Militar Ambiental – Presente em alguns estados para ação direta contra crimes ambientais.
  • Ministério Público – Pode receber denúncias que, com evidências suficientes, são encaminhadas para investigação judicial.
  • IBAMA – Linha Verde – 0800 061 8080 (segunda a sexta, das 07h às 19h). Consulte o endereço mais próximo para realizar a denúncia presencialmente.
  • Fala.BR – Plataforma da Ouvidoria-Geral da União para denúncias online.

 

É fundamental que cada um de nós faça sua parte para combater o tráfico de animais. Não adquirir animais silvestres, denunciar atividades suspeitas e apoiar iniciativas de conservação são atitudes que podem fazer a diferença.

Proteger a biodiversidade é uma responsabilidade coletiva. Somente com o engajamento de todos poderemos garantir um futuro mais sustentável para nossa fauna e para as próximas gerações.

 

Escrito por: Rubia Rempalski – Greenbond Conservation 

Revisado por: Júlia Quintaneiro – Greenbond Conservation

Juntos, podemos fazer a diferença na vida dos animais em situações de emergência.

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