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Por que a vacinação animal é essencial para a saúde pública e o controle de zoonoses?

Por 9 de junho de 2025Sem categoria

No Dia Internacional da Imunização, é hora de lembrar que a vacinação animal também protege a vida humana. Em um mundo cada vez mais exposto a desastres, epidemias e desequilíbrios ambientais, vacinar cães, gatos e animais de produção é mais do que um cuidado individual, é uma estratégia coletiva de prevenção. Do controle de zoonoses ao fortalecimento da saúde pública, a imunização animal constroi uma barreira invisível, mas poderosa, contra surtos que ameaçam comunidades inteiras. Neste artigo, você vai entender por que investir em vacinação animal é investir no futuro da saúde, para todos os seres. Leia até o final!

 

A vacinação animal e a saúde pública

A vacinação de animais vai muito além da proteção individual de cães, gatos ou rebanhos. É uma das estratégias mais eficazes para proteger comunidades inteiras contra  zoonoses, doenças que podem ser transmitidas dos animais para os seres humanos.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde Animal (OIE), mais de 60% das doenças infecciosas humanas têm origem animal, incluindo raiva, leptospirose, brucelose, leishmaniose e até a COVID-19. Essas enfermidades geralmente surgem em contextos de desequilíbrio ambiental, como desmatamento, urbanização acelerada ou desastres climáticos.

Atendimento de animais resgatados durante uma de nossas missões. Foto: Acrevo GRAD BRASIL.

As zoonoses afetam diretamente a saúde pública, comprometem cadeias de produção de alimentos e sobrecarregam os serviços de saúde. Por isso, a vacinação de animais domésticos e de produção é uma ação preventiva essencial, reconhecida e recomendada por órgãos como o Ministério da Agricultura e Pecuária, o Ministério da Saúde e pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS).

Mas, afinal, quais vacinas devem ser priorizadas quando falamos em saúde pública? A resposta varia conforme o território, a espécie e o risco epidemiológico. No próximo tópico, você confere as vacinas que mais protegem, não só os animais, mas todos nós.

 

Vacinas animais obrigatórias e prioritárias para evitar zoonoses

 

As vacinas com maior impacto em saúde pública variam de acordo com a espécie animal, o território e o risco epidemiológico. Ainda assim, há cenários onde a vacinação se torna absolutamente estratégica para conter surtos e proteger populações humanas e animais: 

  • Áreas urbanas com alta densidade populacional de cães e gatos sem cobertura vacinal;
  • Regiões rurais com criações  sem controle sanitário;
  • Situações de desastre (como enchentes, queimadas, deslizamentos), onde há um aumento no contato entre humanos, animais e  vetores de doenças.

Abaixo, confira as principais vacinas de interesse em saúde pública, organizadas por espécie animal:

Espécie Vacinas essenciais Zoonoses relacionadas
Cães Antirrábica, Leptospira spp. (V8/V10) Raiva, Leptospirose
Gatos Antirrábica, Clamidiose Raiva, Clamidiose
Bovinos Brucelose (B19), Raiva, Leptospira Brucelose, Raiva, Leptospirose
Equinos Raiva, Encefalomielite equina Raiva, Arboviroses
Suínos Leptospirose, Raiva (em áreas de risco) Leptospirose, Raiva

Fonte: MAPA, OPAS, Fiocruz.

 

Carteira de vacinação: uma proteção que deve acompanhar toda a vida 

Animais de companhia, como cães e gatos, convivem diariamente com humanos, o que os torna atores-chave na prevenção de zoonoses e na promoção da saúde coletiva.. Por isso, manter a carteira de vacinação atualizada é uma atitude de responsabilidade com toda a comunidade. 

A vacinação começa ainda na fase filhote e deve seguir por toda a vida do animal, com reforços anuais essenciais para manter a imunidade ativa. O Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) recomenda que os tutores sigam o protocolo vacinal estabelecido para cada espécie, respeitando a periodicidade e os cuidados pós-vacina indicados pelo profissional responsável. Abaixo, veja os protocolos vacinais recomendados para cães e gatos:

Animal Início da vacinação Vacinas essenciais Reforço
Cão 6 a 8 semanas V8 ou V10, Raiva Anual
Gato 8 semanas Tríplice felina (V3), Raiva Anual

 

As vacinas múltiplas,como V8 ou V10, são fundamentais, pois protegem contra doenças graves e contagiosas como cinomose, parvovirose e leptospirose. Já a vacina contra a raiva é obrigatória por lei, e deve ser aplicada anualmente, com campanhas gratuitas promovidas  por estados e municípios em todo o Brasil.

 

Benefícios da vacinação que vão além da prevenção

A vacinação animal é, antes de tudo, uma medida de saúde pública. No entanto, seus efeitos positivos se estendem muito além da prevenção direta de doenças. Campanhas de imunização bem conduzidas têm o poder de fortalecer políticas sanitárias, promover justiça social e gerar impactos positivos nos territórios onde são aplicadas.

Vacinação de cães durante missão no Rio Grande do Sul, em 2024. Foto: Acervo GRAD BRASIL.

Em áreas urbanas, por exemplo, a vacinação sistemática de cães e gatos contribui para reduzir a superpopulação de animais em situação de abandono, desafogando centros de controle de zoonoses e diminuindo o número de ocorrências de mordeduras e transmissão de doenças. Nos meios rurais, a imunização de animais de produção protege rebanhos inteiros contra enfermidades que poderiam comprometer a segurança alimentar e gerar perdas econômicas expressivas, afetando não apenas criadores, mas cadeias produtivas inteiras.

Além disso, a vacinação animal pode ajudar a conter o uso excessivo de antibióticos e outros medicamentos veterinários, colaborando com uma agenda global urgente: o combate à resistência antimicrobiana. Ao prevenir infecções em larga escala, diminui-se a necessidade de tratamentos medicamentosos intensivos, o que, por sua vez, reduz o risco de desenvolvimento de cepas resistentes, uma das maiores ameaças à saúde humana e animal nas próximas décadas.

Outro ponto relevante é o papel mobilizador das campanhas vacinais. Elas criam oportunidades de engajamento comunitário, fortalecem vínculos entre profissionais da saúde, gestores públicos e a população, e contribuem para o acesso a serviços de orientação e atendimento básico. Quando bem organizadas, essas campanhas atuam como pontes entre o sistema de saúde e comunidades muitas vezes invisibilizadas.

Diante desse cenário, torna-se evidente que a vacinação não deve ser vista apenas como um ato clínico, mas como uma ação estratégica com múltiplos efeitos sociais, econômicos e ambientais. Mas, como tornar essas campanhas mais sustentáveis?

Sustentabilidade e imunização: onde esses temas se conectam?

A vacinação animal, tradicionalmente vista como um procedimento clínico e preventivo, pode, e deve, ser pensada de forma sustentável. Em tempos de emergência climática e pressão sobre os sistemas de saúde e produção, é fundamental que as campanhas de imunização considerem também seu impacto ambiental, logístico e social. 

Essa visão integrada fortalece a abordagem da Saúde Única (One Health), que reconhece a interdependência entre saúde humana, animal e ambiental.

Quando organizadas com planejamento e responsabilidade, as campanhas vacinais podem reduzir desperdícios, otimizar recursos e ampliar seu alcance. Um exemplo é a realização de ações comunitárias e itinerantes, que concentram atendimentos em pontos estratégicos e evitam múltiplos deslocamentos individuais. Essa logística, além de ampliar o acesso, diminui a emissão de gases poluentes e o consumo de combustíveis.

Realização de campanha de vacinação itinerante. Foto: Acervo GRAD BRASIL.

Outro aspecto crucial é o manejo adequado dos resíduos gerados. Seringas, frascos e agulhas devem ser descartados de acordo com normas de biossegurança e vigilância sanitária, garantindo que o ato de proteger a saúde não gere novos riscos ao meio ambiente ou às comunidades. 

O uso racional da cadeia do frio, sistema que mantém as vacinas na temperatura ideal durante todo o transporte e armazenamento, também é um ponto-chave para evitar perdas de imunobiológicos e reduzir a pegada ecológica das campanhas.

Por fim, o componente educativo não pode ser subestimado. Ao incluir orientações sobre cuidados sanitários, bem-estar animal e sustentabilidade no momento da vacinação, campanhas públicas e privadas se tornam também espaços de formação e conscientização. Isso fortalece o vínculo entre os profissionais e a comunidade, e amplia os efeitos positivos das ações muito além da aplicação da dose.

Integrar sustentabilidade à vacinação animal é, portanto, um compromisso ético com a vida em todas as suas formas.

A atuação do GRAD em campanhas de vacinação animal

A vacinação animal é parte central das ações do GRAD em situações de emergência, atendimento em campo e resposta a desastres ambientais, a imunização é tratada como estratégia prioritária de contenção sanitária, capaz de proteger não apenas os animais resgatados, mas também as populações humanas em áreas de risco.

Campanha de vacinação realizada em comunidade atendida durante missão em Angra dos Reis. Foto: Acervo GRAD BRASIL.

Em 2025, o GRAD já vacinou 2.270 animais entre cães e gatos, durante operações realizadas em diferentes estados brasileiros. Essas ações ocorreram tanto em contextos críticos, como no cenário pós-enchentes, como Rio Grande do Sul ou Picos/PI, quanto em iniciativas de prevenção e cuidado comunitário, em parceria com redes locais de proteção animal.

Ao longo da última década, mais de 20 mil animais foram atendidos pelo GRAD em missões multiespécie. Em muitas dessas situações, a vacinação foi uma das primeiras etapas da resposta técnica, realizada em conjunto com a distribuição de kits de higiene, avaliação clínica, manejo sanitário e orientação aos tutores.

Imunização de cães em comunidade indígena. Foto: Acervo GRAD BRASIL.

Cada campanha é planejada com base em critérios epidemiológicos, logísticos e ambientais, respeitando as normas sanitárias vigentes e priorizando as vacinas de maior impacto em saúde pública, como as que previnem a raiva, leptospirose e outras zoonoses. 

Em campo, a equipe do GRAD também atua no monitoramento dos animais pós-vacina e no registro sistemático das informações, contribuindo para a rastreabilidade e a construção de dados sobre a saúde animal em territórios vulneráveis.

Vacinar, nesse contexto, é um gesto de cuidado e uma ação técnica, ética e necessária para conter riscos invisíveis antes que eles se tornem emergências maiores.

 

Para o GRAD, vacinar é cuidar do presente e proteger o futuro

A vivência do GRAD em emergências nos mostra que vacinar é salvar vidas. Vacinar vai além do ato clínico, é um gesto de cuidado coletivo, com implicações sociais, ambientais e políticas. É a escolha consciente de quem protege hoje pensando no amanhã.

Saiba mais sobre nossas operações em campo: Missões do GRAD
Acompanhe outras ações e atualizações: Notícias GRAD

 

Redação: Maria Laura Gonçalves – Greenbond Conservation

Revisão: Juliana Cuoco Badari – Greenbond Conservation